segunda-feira, 12 de julho de 2010

Há um livro nas livrarias

O gosto literário da evocação não é muito frequente entre nós. Editar o retrato escrito de alguém, não por ofício mas por dever de memória, pelo ardor da partilha, ainda é menos frequente. Encontrar um livro assim, escrito com empenhamento e elegância, é uma raridade que não pode ser desperdiçada.
Há um livro destes à venda nas livrarias. E não creio que se vá falar muito dele. Chama-se Às sete no Sa Tortuga. Um retrato de Alberto de Lacerda. O seu autor é Luís Amorim de Sousa, amigo do poeta, que este nomeou seu herdeiro. A edição é da Fundação Mário Soares (na qual o autor e herdeiro depositou o espólio de Alberto de Lacerda) e da Assírio & Alvim. A data de publicação é Junho de 2010. Além deste, anunciam-se mais dois títulos de uma «Colecção Alberto de Lacerda».
É claro que o meu interesse advém de um conjunto de circunstâncias. A primeira das quais é a minha continuada admiração pela poesia do autor de Palácio, de Exílio, de Tauromagia ou de Elegias de Londres. Depois, a oportunidade de me ter cruzado por duas vezes, ainda que brevemente, com o poeta, sobre o qual planeei, em certo momento, escrever uma tese de mestrado (e sobre quem, afinal, vim a publicar um modesto texto in memoriam). Depois, ainda, o meu fascínio pelo retrato ou evocação intimista, como género, que coloca o retratado em relação com um tempo e um universo de figuras e lugares. Em alguns casos, como é o deste livro, o meu fascínio partilha, de algum modo, a natureza do fascínio do próprio poeta. E, também, a do essencial fascínio (afecto, admiração) do autor do retrato pelo retratado.